26 de ago. de 2012


Na lentidão da música,
Imagino-me tirando tuas roupas,
Imagino-me beijando-te calorosamente,
Imagino-me tocando-te.

Na lentidão da música,
Imagino-me beijando-te e abraçando-te,
Imagino-me tocando tuas costas, teu rosto, tuas curvas,
Imagino-me realizando-te.

Na lentidão da música,
Emborco mais um copo de conhaque,
Levanto da minha mesinha onde cá estou escrevendo
E, tropeçando nos meus próprios pés,
Sonharei com aquela pessoa que tira meu fôlego.


Niko


Meus olhos ligeiros procuram-te
Mesmo sabendo que não te verei.
Meus olhos alarmam-se com qualquer vulto
Mesmo sabendo que tu não estás aqui.

Apesar de saber que tu não estás aqui
Ainda quero te encontrar,
Ainda quero te abraçar,
Ainda quero te tocar e saber como estás.

Aproximo-me de onde pode estar
(Sei que não estás)
E me decepciono, tu realmente fostes.
Eu queria que tu estivesses aqui.

Tu estás longe
E levastes meu coração,
Tu estás longe
Junto com minha mente.

Enquanto estás longe,
Não durmo só.
A lua é meu cobertor nestas noites frias
E ainda declama tua alma ao meu ouvido.
Assim espero teu regresso.


Niko

17 de ago. de 2012

Ode ao Burguês - Mário de Andrade

Iou, povo! Esse é um de meus poemas preferidos e por isso estou postando aqui. Ele fica muito mais perfeito quando declamado então quem tiver a disposição de procurar no youtube um vídeo com ele irá ver a ver como ele é realmente. Quem não quiser, só leia mesmo que também é muito bom.
Enki

Ode ao Burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!


Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!


Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!


Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!


_ Más nós morremos de fome!

Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!


De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...


                                              (Mário de Andrade)

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